Um silêncio tomou conta da minha mente, os pensamentos simplesmente não estavam mais ali.
Uma nova consciência surgiu em mim, a sensação era de que eu estava conectado a todas as coisas, todas. Não tinha uma separação daquele ponto de vista, era como se todas as coisas juntas formassem uma coisa maior, e assim por diante.
Quando criança coisas estranhas aconteciam em minha vida, muitas delas eu nem sequer percebia, não tinha a menor ideia do que poderia ser.
Em um dia qualquer comecei a ter alguns questionamentos sobre a vida, as coisas e o que e como isso tudo funcionava. Perguntas começaram a vir em meus pensamentos, eram perguntas diferentes mas com um grande propósito.
Acho que minha mente começou a tomar consciência quando fui a um bingo, desses que você compra uma cartela e o locutor “canta as pedras” naquele dia um homem que tinha ganhado um carro há alguns meses atrás em outro bingo semelhante, ganhou novamente o prêmio principal que era outro carro. Lembro-me de ter ficado um tanto triste, pois a cartela era cara e minha mãe que tinha comprado para tentar a sorte, pois as condições da família nunca foram das melhores e com o dinheiro da venda do carro iria ajudar em muito nas despesas.
Mas algo novo começou a “soar”, como isso é possível, o que aquela pessoa tinha de diferente das outras que ganhara novamente, entre muitas pessoas qualquer uma podia ganhar, mas ele ganhou duas vezes o prêmio principal, quanta sorte ele tem. Afinal…
O que é sorte? O que é azar? Depois desse momento muitas outras questões começaram a vir.
O que é certo e errado? Porque aquelas pessoas conseguem as coisas e outras não? Porque alguns ficam ricos e outros não saem da pobreza? Porque alguns são bons e outros são ruins? Porque alguns são saudáveis e outros vivem doentes? Porque aquela pessoa que é mal vista por muitos e é uma pessoa supostamente ignorante consegue as coisas e outros que são bons e supostamente inteligentes e muitos gostam dela não consegue quase nada e só se da mau?.
Afinal como isso funciona, como as coisas funcionam? Quem eu sou? O que sou ou por que estou aqui? Porque, porque, por quê???…
Todos os tipos de perguntas vieram, então comecei a prestar atenção nas pessoas para poder ver se algo de diferente existia nelas ou se faziam algo que as outras não faziam. Prestava atenção nas que tinha mais saúde, dinheiro, sorte, nas pessoas que estavam “se dando bem”.
Logo uma aflição tremenda veio com aquilo tudo, e veio, pois na realidade eu consegui perceber que ninguém tinha a menor ideia de o porquê as coisas aconteciam daquela forma em suas vidas. Ser, ter, fazer, tudo isso era já automático nas pessoas, elas faziam, simplesmente faziam as coisas e tudo ia acontecendo como se fosse natural.
Há é assim que é.
Alguns diziam para ter saúde você precisa se alimentar bem, fazer exercícios físicos. Para ter dinheiro você precisa estudar e trabalhar bastante, não é fácil.
Ai eu me perguntava, tá mas eu conheço pessoas que se alimentam mal, não fazem exercícios físicos, fumam, bebem, e são saudáveis ou pelo menos aparentam ser saudáveis. Conheço pessoas que não estudaram e que trabalham normalmente e tem bastante dinheiro, do mesmo modo que conheço pessoas que trabalham igual um escravo e ganham só o suficiente para sobreviver.
Espera ai, tem alguma coisa errada, não é possível, tem algo oculto que ninguém sabe ou ninguém me fala porque tem medo de alguma coisa. Mas isso é inaceitável.
Quando criança e no começo da adolescência gostava de assistir os filmes que falavam sobre a história de Jesus, e sempre algo me chamava atenção, me emocionava, tinha algo que ele dizia que na prática a religião não fazia, não existia aquilo, mas como isso, todos o citam mas ninguém faz o que ele diz. Quando eu via o que ele dizia (nos filmes as frases e metáforas são tiradas da bíblia) algo dentro de mim se perguntava, como ele consegue fazer isso? De onde ele tira isso? Sempre tive a sensação ou uma consciência que me dizia que todos os seres humanos podem fazer a mesma coisa, mas precisam compreender isso, precisam encontrar algo maior, afinal “ele” mesmo diz “vós sois deuses” João, 10:34 “Vós podeis fazer o que eu faço e muito mais” João, 14:12.
Depois de alguns meses algo novo aconteceu, mas eu já estava mais alerta a tudo, estava aberto para o novo para o desconhecido. Estava indo para casa quando ao passar pela porta dos fundos, coloquei o pé para dentro quando uma sensação me fez voltar, e ao lado da porta tinha uma mesinha com uma planta em um vazo e ao lado da planta tinha um livro, coloquei o dedo em cima do livro, li o nome e disse “vou ler esse livro”.
Foi o primeiro livro que li na vida, um livro de autoajuda, ciências mentais para iniciantes, um autoconhecimento leve, nele muitos nomes importantes eram exemplo, nomes de pessoas como Platão, Sócrates, Albert Einstein, muitos pensadores, os mestres espirituais Jesus, Siddharta Gautama (Buda) e Krishna eram citados em vários momentos.
Os professores da escola me perdoem, mas todas aquelas redações que entreguei eram copias de livros que outros colegas liam e faziam, mas isso fica em segredo.
No mês seguinte começou minha jornada ao conhecimento, fiquei uns vinte dias só lendo aquele livro, não queria mais saber de outra coisa, só ler e praticar algumas coisas que o livro ensinava, métodos de relaxamentos, auto – hipnose, entrar em alfa e experimentar aquilo. Aos poucos todas as perguntas que eu tinha antes estavam sendo respondidas indiretamente, nas entrelinhas, mas eu estava tão ligado a saber sobre como as coisas funcionam que tudo se encaixava, o oculto aos poucos estava sendo desvendado. Como um mapa mostrando algumas direções a seguir.
Um livro pode apontar para uma direção, o conhecimento dele é um caminho que foi percorrido por outros, é uma experiência de outras pessoas que leva ele a ser parte de algo que possa ser percorrido por você mais tarde.
Lia e relia partes do livro, tentava compreender os fatos, tentava experimentar aquilo, sentia que esse entendimento iria mudar as coisas.
Em um dia qualquer, à tarde, um dia de sol, após terminar de ler o livro e escutando música, peguei no sono.
O que vou descrever agora é algo que as palavras não poderão mostrar, dizer, fazer você experimentar isso. O que eu realmente gostaria de mostrar ou de pelo menos fazer você ter uma ideia real desse sentimento só é possível se você encontrar o caminho, senão será impossível, talvez você até tenha um insight, uma fração pequena disso tudo.
Acho que dormi umas duas horas, sempre dormia após ler, as vezes agarrado com o livro, quando eu acordei tudo tava diferente, um “vazio” estava ali presente comigo, não sabia o que era, mas era bom, sai da cama e fui andando até a porta dos fundos, parecia que eu tava flutuando, quando sai para fora, olhei para os lados e vi que tinha um cachorro ali deitado ao sol se aquecendo, o cachorro levantou a cabeça me olhou e deitou novamente, a sensação que eu estava tendo naquele momento era que eu e o cachorro éramos uma coisa só, ao olhar para o sol, as plantas, os passarinhos que estavam ali a sensação era a mesma, olhei para tudo, olhei o céu as nuvens e era como se eu fosse as nuvens também.
Uma nova consciência surgiu em mim, a sensação era de que eu estava conectado a todas as coisas, todas. Não tinha uma separação daquele ponto de vista, era como se todas as coisas juntas formassem uma coisa maior, e assim por diante.
Tudo ganhou vida, tudo ficou mais claro mais bonito, as cores pareciam mais vivas, os sons mais limpos, o cheiro era mais nítido, dava para sentir um cheiro de flores no ar e eu podia sentir na pele as coisas mais próximas de mim como se não existisse uma separação, eu era tudo ao mesmo tempo, mas eu tinha também o meu “espaço separado”.
Um silêncio tomou conta da minha mente, os pensamentos simplesmente não estavam mais ali, eu não pensava, não tinha pensamentos algum, eu só observava tudo, sem qualquer julgamento de nada. Ali naquele momento eu entendi como tudo funcionava, como as coisas acontecem. Todas as perguntas agora tinham respostas, e tudo tava explicado.
Ao mesmo tempo em que eu tinha absoluta certeza que eu podia ser, ter, fazer qualquer coisa nessa vida, um sentimento de profundo contentamento tomava conta de mim, um êxtase total. Eu não precisava de mais nada, pois eu já tinha tudo ali comigo, tudo.
Eu sabia. Entendi que tudo tem explicação e que eu era algo maior, algo que eu não precisava entender no momento, mas eu sentia eu experimentava.
Eu vi o que era amor de verdade, experimentei esse sentimento de uma forma diferente, o amor da não-mente, um amor observador que compartilha, doa tudo, um amor que não é egocêntrico que vai além da forma, da para amar de olhos fechados sem a necessidade do outro, é algo que vem de dentro, está lá e sempre esteve, sempre estará.
Porque amar só uma pessoa se você pode amar todas. O único amor que existe é o amor que vem de dentro e não de fora, quando alguém se apaixona por outra pessoa, precisa do outro como uma forma, um caminho, mas o outro só serve como uma ponte para despertar algo que tem em si, é a forma que esse fenômeno encontra para se mostrar, aparecer, pois você tá ocupado de mais para meditar ou ficar em silêncio para vê-lo.
Entendi o que significa amar todas as coisas, entendi que não existe separação, tudo está conectado, a separação é uma ilusão. Despertou em mim um sentimento, um desejo de “puxar” o máximo de pessoas para “dentro” dessa verdade.
Nunca mais olhei para as pessoas como sendo elas algo separado de mim, eu sei, eu vi, todos nós estamos indiscutivelmente ligados uns aos outros. A natureza, os animais, tudo está e sempre esteve ligado, tudo é uma coisa só maior. Tudo é perfeito, tudo está dentro de uma lei que chamamos de causa e efeito, todas as coisas estão exatamente no lugar correto, não tem falhas, tudo é um efeito de uma causa, é tudo perfeição.
Toda miséria, pobreza, ódio, raiva, todos os sentimentos derivados do medo, da frequência “baixa” é a causa de toda podridão que existe no mundo. Assim como a riqueza, abundância, alegria, felicidade e todos os sentimentos derivados do amor são a causa de todas as coisas “boas” e maravilhosas que existem no mesmo mundo. Tudo que se cria internamente vai se materializar externamente, esteja você consciente ou não é a lei.
Minha alegria era tanta que alguns dias após isso acontecer, após eu estar lúcido, desperto, tentei passar esse conhecimento adiante, logo nos primeiros dias me deparei com uma inconsciência, uma cegueira muito grande das outras pessoas, eu via que as pessoas estavam vivendo dentro de algo que era uma mentira, não sabiam de nada, poderia ser tudo diferente, tudo ligado apenas ao lado positivo ao lado “bom” da energia. Entendi o tamanho do sistema, do programa que existe, os condicionamentos que todos seguem, tudo ficou claro. Nesse dia me tornei um observador.
Tinha total consciência que para passar esse conhecimento adiante era preciso muito trabalho, muita calma. Se eu começasse a falar disso por ai eu acabaria no hospício, pois iriam dizer que era louco que estava paranoico e que precisaria de um psicólogo ou psiquiatra.
Quando você só observa então pode compartilhar, pode sentir, saber, não tem nome na forma é só a forma. O observador não julga por isso vê, escuta, está presente.
Após ter tido essa revelação, comecei uma jornada espiritual, não existia mais medo dentro de mim, não tinha mais medo do que chamamos de morte, porque vi que isso era uma ilusão também, sai então pelo mundo para me entender mais, para buscar mais entendimento, compreensão, para quem sabe em um momento possa passar isso adiante, sem precisar mexer com a fúria dos egoístas.
Após passar em minhas mãos algumas centenas de livros e conviver com alguns mestres espirituais, hoje vejo que existem muitas pessoas que estão nessa busca espiritual, alguns já encontraram, outros tem muitos insights e estão quase lá. Você não sabe, não as vê, podem estar ao seu lado, estão ali comendo um bolo, tomando um café, estão em peregrinação no meio do caos. Só os sensíveis conseguem percebê-los.
Quando dois se encontram eles se tocam só com um leve olhar, eles sabem. Não precisa falar nada, um sorriso já fala tudo, eles se enxergam profundamente.
Essa transformação que muitas pessoas procuram experimentar eu vivo a cada momento, eu vivo no presente, no agora. Uma vez que você conheça essa verdade não tem como se esconder mais, você pode se sentir deslocado, um tanto “sozinho” por não ter outros que compartilhem do mesmo sentimento, vai ter que ficar “sozinho” por um tempo até assemelhar tudo com calma, talvez te chamem de louco ou coisa do tipo, mas você sabe e sabe que sabe, pode ter recaídas mas vai continuar sabendo, vai “errar” e saber que tá “errando”, vai se culpar por isso, vai se condenar por não “tomar as rédeas” da situação.
Ter consciência que o outro não sabe e não compreende, da a sensação de respeito pelo próximo, você sabe que ele é igual a você, mas ele ainda não sabe disso. Então você o olha profundamente e vê sua luz, percebe que existe uma “nuvem” o cobrindo, e não importa o quanto essa pessoa seja egoísta e fale mal de você, você vai amá-la do mesmo jeito.
Você sabe ao mesmo tempo que existe uma compreensão maior, uma inteligência superior, essa busca pelo caminho para mim ganhou novos sentidos, novos planos, novos despertares.
Quando a humanidade entender a mensagem dos mestres espirituais, quando todos os humanos viverem isso, esse mundo não existirá mais, será outro mundo.
Você só sabe algo realmente, quando experimenta por si só, se tem o conhecimento, a ciência, então você ainda não sabe, não atingiu a consciência daquilo, mas talvez tenha uma direção a seguir e isso é tudo que você precisa, seguir um caminho em busca de quem você é e de como tudo funciona.
Não me lembro como era antes, talvez eu estivesse dormindo. Agora lembro.
Excelente! A parte dos insights já posso compartilhar porque tive a experiência, mas realmente não posso explicar para quem não teve. É preciso vivenciar…
Maynara, realmente é preciso experimentar, vivenciar, sentir…
Só quem teve os seus insights sabe realmente como é, para os outros fica difícil explicar.
Conhecimento só existe com a experiência.